domingo, 22 de novembro de 2015

Osho

"A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano. 
Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. 
Transforme pequenas coisas em celebração... 
Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio deveria ter a sua assinatura. 
Então a vida se torna uma celebração contínua." 

- Osho

Martha Medeiros

Nossos Velhos Pais heróis e mães rainhas do lar. Passamos boa parte da nossa existência cultivando estes estereótipos. Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça. A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá prá implicar com a empregada. O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra? Fizeram 80 anos. Nossos pais envelhecem. Ninguém havia nos preparado pra isso. Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas. Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez de eles serem cuidados e mimados por nós, nem que pra isso recorram a uma chantagenzinha emocional. Têm muita quilometragem rodada e sabem tudo, e o que não sabem eles inventam. Não fazem mais planos a longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente. Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida. É complicado aceitar que nossos heróis e rainhas já não estão no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito, mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina. Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo. Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular e ainda temos a cara-de-pau de corrigi-los quando usam expressões em desuso: calça de brim? frege? auto de praça? Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis. Provocamos discussões inúteis e os enervamos com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi. Essa nossa intolerância só pode ser medo. Medo de perdê-los, e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. É uma enrascada essa tal de passagem do tempo. Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros, ainda mais quando os outros são papai e mamãe, nossos alicerces, aqueles para quem sempre podíamos voltar, e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós."
 Martha Medeiros

Simone de Beauvoir

"Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, 
como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura 
para o futuro.
O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, 
as minha necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? 
Não sou escrava dele. 
O que eu sempre quis foi comunicar unicamente da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida."

 Simone de Beauvoir

Cris Souza


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Augusto Branco


A Namorada

O tempo passa, e nós mudamos tanto...
Ficamos tão sérios, tão preocupados,
e sempre tão sem tempo pra coisa alguma.

De repente, alguém disse que para sermos felizes,
o que precisamos é ter um bom emprego, uma bela casa,
o carro do ano, os aparelhos e as roupas da moda
e, claro, termos muito dinheiro na conta.

E nós, bobos, seguimos atrás destas coisas cegamente, aficcionadamente,
entregando-nos a uma vida afogada em trabalho, estudos, metas,
e uma constante insatisfação.

Mas se olharmos para trás,
ainda poderemos lembrar de um tempo
em que era até engraçado não ter dinheiro
e fazer vaquinha pra pagar a conta da lanchonete com nossos melhores amigos.

Se não conseguíamos ir todos juntos para a festa
ou para o show da hora,
fazíamos nossa festa na casa de alguém,
ou na rua, mesmo,
porque nossa verdadeira festa era estarmos juntos,
sorrindo uns com os outros.

Mas...
Para onde foi esse tempo?
Para onde foram os amigos?
Para onde estamos indo nós?

Nós nascemos muito felizes.
Crescemos naquilo que pode ser
a expressão mais tangível da felicidade possível,
mas aos poucos vamos trocando isso por outros valores,
como sucesso profissional e sucesso financeiro...

Bem aventurado é aquele que consegue acordar a tempo de perceber
que melhor do que fazer horas extras no trabalho
ou perder noites de sono em algum projeto ou pesquisa,
é sempre reservar um tempo para preservar suas amizades,
se dedicando às pessoas que ama,
à sua família.

A felicidade está conosco o tempo todo,
nós é que muitas vezes não damos a menor bola pra ela...


Erros

Pessoas erram.
Ninguém é impassível de erro,
e por conta disto é bom que não nos tornemos maus juízes
daqueles que erram conosco.

Na verdade, não é bom que julguemos
nem condenemos ninguém por suas falhas.
Pode parecer absurda esta idéia
e eu sei que isto é realmente difícil de fazer,
porque muitas vezes estas pessoas nos machucam pra valer.

Porém, se hoje vitimares alguém com incompreensão,
como poderás querer compreensão amanhã?
- Você também erra...

Neste mundo, somos todos aprendizes,
e quando alguém pisa fora da linha, não nos cabe julgar ou punir,
mas pegá-lo pelo braço e dizer ‘vem por aqui’.
- Sozinhos, nós não chegaremos a lugar nenhum.

E, além disto, a verdadeira capacidade de perdoar
consiste em perdoar aquilo que parece imperdoável...
Você é capaz disso.
Todos nós somos.
Basta darmos mais espaço para florescer

o amor que há em nossos corações.



A floresta

Há momentos em que sentimos
como se estivéssemos entrando floresta adentro,
em mata hostil e fechada.

Quando você entra numa floresta assim,
é sempre muito difícil.
Os galhos te impedem a passagem,
você se fere em espinhos,
é atacado por toda sorte de animais e insetos,
o ambiente não é confortável
e há no ar sempre uma sensação de perigo iminente.
Mas...
É sensação, apenas.

No final das contas,
quando tiveres chegado tão longe
quanto for necessário chegar,
tu poderás olhar para trás
e ver quão graciosa paisagem
se descobrirá aos teus olhos,
quiçá repleta de pássaros,
de luz e de flores
num caminho aberto
por teus próprios pés...




Vida

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas 
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é muito para ser insignificante.




Poema da Noite

Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguém especial... (e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas... "quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas também já fui rejeitado;
Fui amado e não amei...



A vida numa corda bamba

Costumo dizer que quando estamos muito tristes, com a alma triste até a morte, é como se estivéssemos atravessando um desfiladeiro em uma corda bamba. O que tem embaixo é um Abismo, e o que está acima é o Céu. Se você olhar pra baixo, você verá o Abismo. 
O Abismo atrai o olhar, mas o Abismo é morte certa, e ao olhar para ele você pode entontecer e cair. Portanto, nunca olhe para o Abismo. Mas também não olhe para o Céu. O Céu é como um sonho, e ele pode estar belíssimo, muito azul, com um Sol radiante ou repleto de estrelas, não importa: não olhe para o Céu, por que de tão belo ele pode fazer você esquecer de que precisa manter o equilíbrio e seus pés bem firmes na corda.
Desta forma, eu te digo: o único lugar para o qual você deve olhar é para a frente, onde está o Horizonte. O Horizonte é onde está tudo o que você pode descobrir, viver e alcançar. Basta seguir em frente. 
Se você olhar para trás, poderá ver teus familiares e amigos dizendo “siga em frente”. Mas se não puderes ouvir isto, concentre-se em teus pensamentos, por que é na verdade o que você quer: Seguir em frente!Então apenas mire o horizonte, mantenha teus passos bem firmes e você atravessará o desfiladeiro, onde do outro lado haverá um mundo, pessoas e uma vida que esperam, sinceramente, que você siga em frente.
Augusto Branco


Um dia você percebe

Que o amor é algo que se encontra muito além de um belo sorriso...
Percebe que as coisas simples da vida são também as mais importantes
Percebe que o impossível, na verdade, é só uma questão de opinião
E que o teu fracasso ou o teu sucesso dependem exclusivamente de suas escolhas.

Um dia você percebe
Que muitos erros cometidos têm a intenção de acertar
E que nas pessoas, assim como em um bom perfume,
O que vale não é o frasco
Mas a essência.

Um dia você percebe
Que cada um oferece aquilo que tem
e o que transborda de dentro de si.
Percebe que não nos cabe julgar nem punir nada aqui,
mas apenas compreender
E que o silêncio muitas vezes é a maior sabedoria que podemos expressar.

Em um lindo dia você percebe
O quanto é bom acordar cedinho para ver o Sol nascer!
Que sempre se é feliz quando se tem bons amigos,
E que quem realmente te merece não faz você sofrer.

Um dia você percebe
Que a felicidade não tem muito a ver com dinheiro ou status
Percebe que, de certo modo, o amor é apenas uma maneira de olhar
E que as pessoas mais valiosas em sua vida
São justamente aquelas que sempre estiveram ao seu lado.

Um dia você percebe também
Que a tua felicidade não deve depender dos outros
Mas exclusivamente de você
E que o mais importante na vida
Não é que você encontre alguém que te ame de verdade
Mas que você se ame sempre
Imensamente!
 Augusto Branco

Manoel de Barros


“E, aquele que não morou nunca em seus próprios abismos nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas, não foi marcado. Não será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.”
Manoel de Barros


Deus disse

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.

Quero o feitiço das palavras.


Borboletas

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens
e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta -
Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras
do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças
do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidades para a paz do
que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que
os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do
ponto de vista de uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.


Pedido quase uma prece

Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal –
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores. 

O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade, não é necessário que seja azul, nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome. 

Sem nome, porém honrada, Senhor.
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir
os ventos pelos caminhos, e ver o sol
dourando os cabelos negros e os olhos de minha amada. 

Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ela é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e bastante constrangido,
Que sem ela a casa também eu não queria, e voltava pra pensão.

Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos
E a dona é sempre uma senhora do interior que tem uma filha alegre.
Eu adoro menina alegre, e daí podeis muito bem deduzir
Que para elas eu corro nas minhas horas de aflição. 

Nas minhas solidões de amor e nas minhas solidões do pecado
Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis
Como amarga a vida de um homem o carinho das prostitutas! 

Vós sabeis como tudo amarga naquelas vestes amassadas
Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas
Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti
Que eu continue sonhando com a minha casinha azul. 

Permiti que eu sonhe coma minha amada também, porque:
– De que me vale ter casa sem ter mulher amada dentro?
Permiti que eu sonhe com uma que ame andar sobre os montes descalça
E quando me vier beijar faça-o como se vê nos cinemas…

O ideal seria uma que amasse fazer comparações de nuvens com vestidos, e peixes com avião;
Que gostasse de passarinho pequeno, gostasse de escorregar no corrimão da escada
E na sombra das tardes viesse pousar
Como a brisa nas varandas abertas…

O ideal seria uma menina boba:que gostasse de ver folha cair de tarde…
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas…
O ideal seria uma criança sem dono, que aparecesse como nuvem,
Que não tivesse destino nem nome – senão que um sorriso triste
E que nesse sorriso estivessem encerrados
Toda a timidez e todo o espanto das crianças que não têm rumo…

Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal –
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores

E ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores… 

Eu bem sabia -----------------Manoel de Barros


Eu bem sabia que a nossa visão é um ato
poético do olhar.
Assim aquele dia eu vi a tarde desaberta
nas margens do rio.
Como um pássaro desaberto em cima de uma pedra
na beira do rio.
Depois eu quisera também que a minha palavra
fosse desaberta na margem do rio
Eu queria mesmo que as minhas palavras
fizessem parte do chão como os lagartos
fazem.
Eu queria que minhas palavras de joelhos
no chão pudessem ouvir as origens da terra.

Manoel de Barros In Menino do mato